Caravanas preparatórias reforçam proposta de diálogo do III ENA

Entre os dias 16 e 19 de maio a cidade de Juazeiro, na Bahia, receberá o III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), com o lema “Cuidar da Terra, Alimentar a Saúde, Cultivar o Futuro”. Conversamos com Moacir dos Santos, coordenador do Eixo de Produção do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) e integrante da comissão local do III ENA, sobre as expectativas e a preparação para o encontro, que pretende reunir 2000 pessoas, entre técnicos/as, agricultores/as, estudantes e defensores da causa agroecológica.

Foto MoacirPara Moacir dos Santos as discussões no III ENA serão iluminadas pelas caravanas preparatórias 

Por Victória Ayres (Centro Sabiá)

Canto do Sabiá: Como estão as expectativas para o III ENA?

Moacir dos Santos: A expectativa é reunir 2000 pessoas para discutir a pergunta “Por que interessa à sociedade apoiar a agroecologia?”, pensando a agroecologia para além das técnicas de agropecuária e manejo sustentável. Que alimentos estamos comendo e o que queremos comer? Que água estamos bebendo e que água queremos beber? Que ar estamos respirando? Que campo queremos para o Brasil? Que cidade queremos para o Brasil? Que educação queremos? Que modelo de sociedade queremos? Que desenvolvimento queremos? Todas essas perguntas fazem parte da discussão agroecológica. O III ENA pretende mostrar para a sociedade que o projeto de sociedade agroecológica é a que melhor responde aos anseios da população urbana e rural do Brasil. É um evento político. Quer marcar território na construção de políticas publicas que viabilizem um bem viver para todas as pessoas e para o ambiente natural. Para isso é necessário eliminar algumas políticas que vão no caminho contrário, principalmente as que fomentam e financiam o agro e o hidronegócio, bem como a mineração desordenada, com objetivo único de ter lucro rápido a qualquer custo.

CS: Quais são as propostas de discussão e eixos do III ENA?

MS: Quatorze territórios do Brasil o representarão com toda a sua diversidade. Esses territórios trarão para a discussão a realidade vivida por cada um evidenciando o que está viabilizando a agroecologia e o que está impedindo o desenvolvimento da agroecologia naquele território. Os eixos orientadores refletindo a diversidade temática que envolve a agroecologia serão: Políticas Públicas; Proteção, Manejo e Conservação dos Recursos Naturais; Mercados; Conflitos; Posse da terra e direitos territoriais; Identidade e Cidadania; Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, Economia e Trabalho e Socio-organização (mulheres e jovens).

CS: Quais são as principais diferenças dessa edição do ENA em relação a anterior?

MS: Um elemento novo e muito agregador foi a realização das caravanas territoriais de agroecologia e cultura. A discussão durante o III ENA será iluminada pela experiência vivida nessas caravanas. Outro elemento importante é a organização da proposta agroecológica a partir dos territórios, compreendidos aqui como o lugar de pertencimento, onde a família rural e urbana tem suas raízes. É a partir do local que a mudança acontece. Agroecologia é um movimento nacional que se concretiza nas ações locais articuladas nacionalmente. Não se trata de ter uma propriedade ou uma comunidade agroecológica, se faz necessário defender o território agroecológico, com seus climas, seus solos, bacias hidrográficas, povos e comunidades tradicionais, agriculturas familiares, cidades e toda disputa política e cultural que existe naquele território.

CS: Qual a importância das Caravanas agroecológicas e culturais para os participantes do III ENA?

MS: As Caravanas promovidas pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) mobilizaram e incentivaram a participação no III ENA nos territórios, com o objetivo de realizar um intenso
intercâmbio entre organizações regionais e locais e o aprofundamento do debate na perspectiva local de temas relevantes como sementes e recursos genéticos, construção coletiva do conhecimento agroecológico, acesso a mercados, gênero e agroecologia, manutenção da juventude no campo, assistência técnica e certificação participativa. Essas caravanas possibilitaram o intercâmbio entre famílias camponesas, técnicos, estudantes e entidades de apoio para um maior conhecimento do que está sendo feito, na prática, para a construção do projeto agroecológico e também conhecer os desafios e os inimigos desse projeto. Foi gerado um acúmulo importante para o ENA. Um destaque especial cabe para a participação das mulheres que desde a Marcha das Margaridas vêm pautando a questão da transição agroecológica como central em suas reivindicações, conseguindo naquele momento um compromisso com a Presidenta Dilma de criar uma política de agroecologia.

CS: Como ocorrerá esse processo de continuidade?

MS: A partir das discussões, iluminadas pela vivência das caravanas, o III ENA quer explicitar com mais ênfase a necessidade da sociedade defender um projeto agroecológico, utilizando todos os espaços de construção da cidadania, como a mídia, a educação, os movimentos sociais, os fóruns, conselhos e todos os espaços de discussão e construção de políticas públicas. Serão tirados encaminhamentos e proposições comuns que serão trabalhados por todos os territórios, cada um a partir de sua realidade local.


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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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