Jovens do Sertão realizam intercâmbio para formação em Agroecologia
Por Gabriel Venâncio*
Foto: Gabriel Venâncio
Na primeira quinzena de novembro, do corrente ano,26 jovens do Curso de Formação de Jovens Agricultores Familiares e Camponeses em Agroecologia ministrada pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em parcerias com o Centro Sabiá, Pastoral da Juventude Rural (PJR) e Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Estado de Pernambuco (Fetape) participaram de um intercâmbio, para troca de experiências. Eles e elas foram a propriedade da jovem Maria José, que também é integrante do curso. Os/as jovens são do Sertão do Pajeú dos municípios de Santa Terezinha, Flores e Calumbi. Na propriedade de Maria e sua família é uma unidade modelo no que se refere à produção agroecológica e de tecnologias sociais.
Foto: Gabriel Venâncio
“Não sei definir o sentimento que tive ao chegar na propriedade de Maria. Senti-me privilegiada em ter tido a oportunidade da visita, a cada passo que eu dava era o novo ensinamento, aprendi sobre agroecologia, mas não foi só isso. Aprendi a valorizar as coisas que muitas vezes deixamos de lado, coisas essas as quais têm uma grande importância. Passei minha infância toda morando no sítio e pensando como seria morar na cidade. Hoje moro na cidade e só assim percebi o valor que têm as plantas a terra que onde muitas vezes reclamei delas. Vendo Maria, Gabriel e Evanilson falando passava um filme na minha cabeça, como inúmeras vezes eu reclamei do lugar onde passei toda minha vida, lugar esse que se ainda estivesse lá com certeza pensaria diferente, ainda mais depois da aula que tivemos nesse intercâmbio. Teria outro pensamento, outras atitudes, não falo que foi só uma aula de agroecologia, mas de sentimento de como nunca devemos deixar de valorizar a natureza pois ela é vida. Outro lado que me chamou mais atenção, foi o que percebi o quanto eu poderia ter valorizado mais minha propriedade, teria feito toda a diferença. Na minha propriedade tem muitas plantas, mas se resume a cajueiro mangueira, o que vira um grande monocultivo, e são plantas que nem fui eu que plantei. Essas plantas foram meus avós, meus pais quem plantaram, então são plantas que nem sei como foram plantadas. Todos os anos são feitos manejos, mas é de forma errada. Uma vez por ano vai lá com o moto serra cortar umas galhas, de cotas umas partes, então são cultivos que são apenas para o próprio lucro a benefício próprio, não se preocupa com a natureza, com o meio ambiente nemnada. Então vendo a propriedade de Maria se ver um lugar que transmite paz, tranquilidade que para onde você olha você só ver plantas, uma propriedade onde tudo funciona, onde está tudo interligado. Sem falar nas tecnologias sociais, que dá ainda mais charme a propriedade. Então esse intercâmbio me fez refletir de como deve ser bom você chegar em seu filho e oferecer uma alimentação e poder dizer a ele olha, fomos nós que produzimos, dele poder ver uma árvore e saber que fomos nós queplantamos, deve ser muito gratificante mesmo. E num é que acho que eu tô tomando gosto pela coisa? Sinto que foi plantada uma semente em mim. ,Sei que ela vai germinar, e vai dá bons frutos”. Nos conta Vânia Luiz, jovem integrante do grupo de base, do Sítio Cutia, Município de Santa Terezinha.
Foto: Gabriel Venâncio
“Esse intercâmbio, para mim, foi ótimo porque a gente além de conhecer outras paisagens, podemos interagir com outros jovens de outras realidades. Algumas pessoas pensam que intercâmbio é só para fora do Brasil como Alemanha, Canadá e entre outros. Mas não, a gente tem que dar valor o que nós termos. Também foi muito satisfatório aprender novas formas de plantar, ajudar a natureza e também saber usar os recursos da própria localidade, como na casa de Maria. Eles sabem utilizar os recursos da propriedade, pois utilizam as frutas do SAF (Sistema Agroflorestal) para beneficiar e fazer poupa para a venda e também tem as hortaliças para vendae para a alimentação. Por isso a importância de ajudar a natureza, porque ela tudo nos dá, é só saber trabalhar em consórcio com ela”, completa Anderson,também do município de Santa Terezinha.
Novos jovens se interessando pela agroecologia é como um novo mundo sendo criado, pois com cada um deles traz uma nova esperança de um mundo melhor, onde todas e todos possam comer daquilo que se planta. Intercâmbio como esse serve para mostra que esse mundo ainda tem jeito, que ainda podemos sonhar com um mundo diferente.
*Gabriel Venâncio faz parte da Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CJMA) do município de Flores – Sertão de Pernambuco
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