Estudo aponta reúso de água cinza como alternativa de convivência no Semiárido
Foto: Rivaneide Almeida / Acervo do Centro Sabiá
Por Rivaneide Almeida, assessora técnica do Centro Sabiá
Uma experiência com 100 famílias dos Sertões do Pajeú e Araripe, em Pernambuco, que vêm utilizando águas cinzas filtradas para irrigação suplementar de agroflorestas, iniciada em 2018, tem trazido resultados importantes, como mais uma possibilidade que se soma a tantas outras para a convivência no Semiárido. Essa iniciativa conduzida numa parceria entre Centro Sabiá e Caatinga gerou um estudo realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e NEPPAS (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas no Semiárido), com resultados promissores para as famílias envolvidas na ação.
A agrofloresta foi uma opção pois, além da larga experiência com esse sistema de produção, estudo anterior indicou que a resiliência das famílias agricultoras do Semiárido, nos momentos de escassez de chuvas, aumenta consideravelmente quando optam pelas práticas agroecológicas em seus agroecossistemas. Esse estudo, realizado em 2016 no Sertão do Pajeú e no Agreste, aponta, por exemplo, uma diferença de 35% (média) a mais na produção de alimentos pelas famílias agroecológicas em comparação com as práticas convencionais.
Além disso, chega à conclusão de que “as famílias agroecológicas são mais adaptadas e mais capazes de viver em um ambiente onde são frequentes os períodos longos de seca. Um conjunto de fatores relacionados aos aspectos ambientais e sociais, como diversidade, conectividade, oportunidades de aprendizagem e participação, promove uma resiliência sistêmica global. Em geral, as famílias que adotam métodos agroecológicos têm a percepção de que são mais capazes de lidar com distúrbios climáticos”.
No estudo dos Sistemas de Reúso de Águas Cinzas (RACs), entre outros resultados, chama a atenção as taxas de crescimento das plantas irrigadas em comparação às mesmas espécies conduzidas em regime de sequeiro (sem irrigação), considerando espécies frutíferas e orrageiras, conforme grá¬cos a seguir. Esse resultado nos leva a concluir que a irrigação reutilizando água cinza tem capacidade de potencializar a produção dentro dos SAFs, principalmente no início da implantação, que é o momento mais crítico, especialmente quando ocorre uma escassez de água de chuva. O Sistema de Reúso de Água Cinza é uma tecnologia social de baixo custo (R$ 2.700,00) e tem impacto na qualidade, produtividade e no combate à deserti¬cação na região Semiárida.
Medições realizadas no período de Setembro de 2018 a Fevereiro de 2019
Outra dimensão considerada no estudo foi a quantidade de água reaproveitada, estima-se uma média de 60 mil litros por ano. Conclui-se que “de modo geral, a qualidade e aplicação de águas cinzas não causaram impacto negativo ao solo durante o período de estudo”. Esse acompanhamento deverá ter continuidade para observar esse resultado ao longo de um período maior, para consolidação e, se for o caso, fazer os ajustes necessários a partir dessas observações. Vale ainda salientar a presença das mulheres agricultoras nessa ação: elas são 65% do público oficialmente cadastrado e participando das atividades do projeto elas somam 72%, revelando a força das mulheres do Semiárido, especialmente nas iniciativas mais desafiantes e inovadoras.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.
[…] https://centrosabia.org.br/2019/12/06/estudo-aponta-reuso-de-agua-cinza-como-alternativa-de-conviven… […]