Juventudes e a quarentena: Histórias e trajetórias do que nós jovens temos vivenciado neste contexto

Foto: Randy Augusto 

Juventudes e a quarentena: Histórias e trajetórias do que nós jovens temos vivenciado neste contexto

Por Gabriel Venâncio, jovem multiplicador da agroecologia do Assentamento Parceiros do Pajeú, município de Flores-PE

Chamo-me Gabriel Venâncio, tenho 25 anos e moro no Assentamento Parceiros do Pajeú em Flores. Desde sempre fui criado nos preceitos agroecológicos por vir de uma família que era assessorada pelo Centro Sabiá. Já tomei vários rumos aos quais me levaram a caminhos diferentes, mas nunca deixados para traz tudo já aprendido nessa longa caminhada. Aos 11 anos entrei para a Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CJMA), a qual completa 15 anos de atuação junto aos jovens em 2020. Nesse período que passei dentro da comissão já fui à vários encontros que marcaram minha vida pela grandiosidade de estar debatendo assuntos com os quais são de suma importância para a permanência das juventudes no campo. Nesse mesmo período tive que me ausentar da CJMA, pois viajei para outros estados em busca de melhores condições, referentes a trabalho formal. Foi aí que fiquei cara a cara com a realidade que sempre falávamos do êxodo rural. Passei dois anos trabalhando fora, até o dia em que percebi que aquele modelo de vida não me interessava, era muito ruim ter uma rotina determinada por outras pessoas, não ter autonomia de tomar minhas próprias decisões e tantas e tantas outras coisas com as quais fui privado. Sendo assim, resolvi voltar ao meu território e retomei as atividades dentro da Comissão, pois como diz o dito popular “um bom filho a casa retorna”.

Hoje, apesar dos vários rumos tomados durante esse tempo, estou aqui em meu território, recém-casado, com casa construída e muito feliz. No entanto, vale destacar que, diferente do que a maioria das pessoas pensam, eu conquistei tudo isso com o meu trabalho na comunidade e não o que ganhei por trabalhar fora. Tenho minha casa, onde já iniciei meu Sistema Agroflorestal (SAF), e quero dar sempre continuidade a tudo aquilo que aprendi no decorrer dessa grande caminhada. Atualmente trabalho como segurança em um posto de saúde em minha cidade. Mas quem disse que quem vive no campo só pode trabalhar com a terra? Cá estou eu provando o contrário, filho de agricultor trabalhando além do cultivo da terra, na área da saúde. Trabalho no Hospital Genésio Francisco Xavier, município de Flores, desde o início do ano. 

Pois bem, sou agricultor, comunicador, artesão e trabalho na área da saúde. Atuo na linha de frente no enfrentamento da COVID-19, e não tem sido nada fácil, pois mudou totalmente minha rotina de vida e da minha família. Os protocolos que temos que seguir, uso contínuo de EPI, rigoroso critério de higiene, e o mais difícil é o distanciamento e até mesmo o isolamento social. Enfim, são um conjunto de questões que o novo normal tem nos apresentado. Mas me sinto muito feliz de poder dar uma parcela de contribuição e esperança a outas pessoas. Depois de estar aqui, não perdi de modo algum meu vínculo com a terra e a produção agroecológica, pelo contrário, utilizo esse espaço para ser mais um canal de escoamento do que produzo, vendo aos meus colegas de trabalho o que produzo em casa e assim contribuo com o melhoramento na qualidade de vida dos mesmos. 

 

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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