Caminhos dos saberes, respeitando e preservando nosso sagrado

Caminhos dos saberes, respeitando e preservando nosso sagrado

Foto: Arquivo Pessoal 

Por Gleison Leite, jovem indígena e multiplicador da agroecologia

Aconteceu nos dias 19 e 20 de dezembro, no território indígena Xukuru do Ororubá, na Aldeia Pé de Serra de São Sebastião em Pesqueira/PE o 1° Acampamento do grupo: Jetuns e jetuins de Mandaru e trilha dos saberes. Com o tema: Caminhos dos saberes, respeitando e preservando nosso sagrado. E desde a construção da atividade, trabalhamos na perspectiva de ir de encontro a estes saberes sagrados e por isso, o nosso objetivo principal foi de fortalecer a memória de antigamente, com o sentimento de cuidado e preservação dos nossos espaços sagrados. Sinto que fomos norteados a realizar nosso primeiro acampamento na (Pedra do portão), um local de mistério e encantamento e, para chegar lá é preciso ter respeito.

O acampamento se deu de forma coletiva, onde todos os jovens se dedicaram nos processos de logística e organização. Contribuindo com as trilhas, pensando  a logística de acomodação e estrutura do mesmo, om o objetivo de dar segurança e conforto durante esta noite de muito encantamento.

Demos início por volta de 17h da tarde fazendo uma abertura com o toque do memby (flauta) sagrado e com toré cantado por todos e todas presentes. Podendo assim pedir a licença, agradecendo pela recepção e saudando o espaço da pedra do portão. Eu fiquei com a  responsabilidade da condução da programação, assumi a mediação da  

vivência, mas desde o principio deixei bem claro que essa programação quem vai dizer é a natureza sagrada. Tivemos a presença ilustre de Dona Mariinha, uma senhora mais velha da Aldeia Cana Brava e, como sabemos, os mais velhos têm muitas histórias para contar. Assim ela o fez, com muita alegria, relatou sua história e cantou em louvor aos mestres. Rosi  Xukuru agradeceu a presença de dona Mariinha e pediu uma salva de palmas a todos/as que se faziam presentes. Este momento foi bem inspirador e cumpriu com o nosso intuito que foi de garantir um espaço para preservação e manutenção das histórias contadas relacionadas aos nossos espaços sagrados.

Logo após fizemos a refeição da janta que contou com um cardápio incrível, tivemos: xerém com galinha, mogoló, fava,salada,  beijú com sardinha, mocó na brasa e café. Já escurecendo acendemos a fogueira que iluminou todo espaço da pedra do portão. Assim podemos seguir nossa “contação de histórias” com o cordel produzido pela equipe trilha dos saberes e apresentado por Maria Clara, que trouxe o resultado da pesquisa feita com os mais velhos das aldeias de Pé de Serra e São Sebastião. A partir do que foi contado, perguntei ao grupo: 1) Qual é o sentimento de participar de uma vivência como esta? 2) E como é estar em um espaço sagrado como é a pedra do portão durante a noite? 

O grupo trouxe respostas de fortalecimento e encorajamento, entendendo a importância de nós jovens estarmos trilhando os caminhos dos nossos ancestrais. Alguns jovens, como Uelson Pereira, também trouxeram histórias que lhes foram contadas por seus ancestrais para partilhar no grupo e este foi um momento bem interativo e cheio de aprendizados.

Em seguida, como foi todo o encontro, de maneira bem livre  espontânea, fizemos uma vivência cultural com voz, violão e pífano. E às 00:00 horas o gaiteiro fez sua chamada no memby. E recitou o Poema intitulado: o agora!

Nossa noite foi coroada com um céu estrelado acompanhado da lua.

As chamas da fogueira e dos candeeiros nos iluminavam e assim nos enxergávamos. E do alto da Serra sobre o amparo daquela pedra (que porta sobre si o formato do portão) estávamos nós, sobre a proteção das abelhas e dos gaviões guardiões. Na terra sagrada, nosso aconchego se fazia com as esteiras no chão. E entre as pedras, nosso corpo físico se adaptava e ali sobre o espaço nossa morada. E aos poucos foram se recolhendo, de repente só se ouvia o som do vento, dos grilos a música da natureza.

Tataramen! Boa noite!!!

No dia 20 pela manhã às 6:00 horas o gaiteiro fez sua chamada no memby agradecendo e pedindo licença para continuar a missão. Após todos estarem de pé e de ter tomado café demos seguimento na programação, fizemos nossa trilha ecológica ao topo da pedra do portão. De cima se avista uma linda paisagem. Ao retornar realizamos um bingo, nas cartelas continham justamente as palavras com sentido de que devemos respeitar e preservar nosso sagrado, nossa religiosidade e continuar neste caminho dos saberes.

Posteriormente realizamos a avaliação do nosso acampamento, onde todos fizeram sua colaboração para que assim consigamos entender o que precisa melhorar e sempre que possível realizar atividades como esta. Finalizamos nossa vivência às 11:30 horas, com o toque do memby e com toré em forma de agradecimento e satisfação a tupã, a tamain, a natureza encantada a pedra do portão e a os mestres protetores…

Gostaria de agradecer imensamente a cada um e a cada uma que se fez apto a missão, que se fez presente neste 1° Acampamento organizado pelo grupo jetuns e jetuins de Mandaru e trilha dos saberes.  

“A natureza não escolhe os capacitados, a natureza capacita os escolhidos”. Muito encantamento para todos e todas!!

 

Que bom ter você por aqui…

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