Programa de Estágio de Conhecimento para o Semiárido da América Latina
Mônica Silva
Jovem agricultora, feminista, estudante de agroecologia e voluntária.
O Programa de Estágio de Conhecimento para o Semiárido da América Latina, entre 01 e 16 de março do ano corrente, enviou três jovens do semiárido do Brasil, para conhecer a vivência de povos indígenas, na Colômbia para compartilhar conhecimento e experiências bem-sucedidas sobre temas de seu interesse e depois réplica -Los em nossas comunidades.
No evento, pudemos trabalhar junto com os/as agricultores e suas famílias. Na comunidade água fria, junto com dona Claudina, indígena, agricultora e grande mestra, pudemos aprender a forma de como ela preparava e cuidava da terra, produzimos compostagem orgânica, conhecemos sua criação de peixes, ela também nos ensinou a fazer o artesanato totuma, ou tutuma que é um vaso de origem vegetal, fruto da árvore totumo ou taparo, sendo geralmente utilizado em toda a América Central, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Venezuela e Panamá, os povos nativos utilizam como instrumento de cozinha. É usado para conter líquidos e sólidos, beber água e outras aplicações.
Dona Claudina, nos contou que antes de conhecer a Agroecologia, não sabia escrever e muito menos ler, não sabia cuidar da terra e que passava por muita necessidade pois não tinha geração de renda. Mas com as visitas dos professores de universidades, estudantes, técnicos, ela aprendeu a escrever, ler, e o mais importante trabalhar em conexão com a natureza.
Ao passar dos dias, estivemos presente na feira pública de Natagaima, município onde passamos a maior parte do tempo. Envolvidos /as nos mostraram suas incumbências e organizações. Na ocasião podemos almoçar no espaço, conhecer os feirantes, e partilhar nossas formas de organização da feira, em momentos oportunos pudemos desfrutar de suas comidas, danças de suas músicas, nadar em seus rios, e conhecer mais de suas culturas.
Em outra comunidade, Tarmico, comparecemos em uma cooperativa que tem como sua principal fonte de renda a Piscicultura. Os pescados são cultivados pelos associados, que também cria animais, bovinos, ovinos, caprinos e aves. Essa criação é tanto para fortalecer a segurança alimentar, mas também para vendas. Os mesmos se reversam para poder cuidar dos animais e peixes. Ainda no mesmo local fomos foi visto as placas solares, de energia renovável, uma vez que é umas das mais sustentáveis, sendo renovável e limpa, uma vez que emite poluentes nem utiliza matérias-primas escassas na natureza. Esse tipo de sistema de geração de energia também não requer um cuidado de manutenção exaustivo apenas uma limpeza ocasional. Além disso, sua matéria-prima a luminosidade do sol é inesgotável e gratuita, contribuindo para o fornecimento de energia nos reservatórios dos peixes.
Em palma alta, comunidade de Natagaima, nos encontramos com o professor Arlex, de ciências agronômicas da Universidade minuto de Dios uniminuto, logo nós locomovemos para uma reunião, para poder aprender, mas também ensinar, lá nos juntamos com alguns agricultores, juntos aprendemos a preparar ração das galinhas. O professor Arlex, explica melhor sobre a importância de uma alimentação de qualidade para as aves. “Uma alimentação equilibrada pode reforçar o sistema imunológico e aumentar a quantidade de vitaminas consumidas, já que em média, o produto tem três vezes mais nutrientes minerais quando comparado aos alimentos convencionais. ”
Depois de toda uma aula sobre a importância de ter todos os cuidados ao preparar uma alimentação agroecológica para as aves, avançamos para preparar e separar os alimentos para poder fabricar a ração, o professor, junto com a nossa ajuda explicou a forma correta de manusear a máquina forrageiras, e mostramos como trabalhar com ela, logo os participantes aprenderam a manusear a trituradora. Ainda na mesma comunidade, tivemos o privilégio de conhecer a propriedade de Perla Luz, uma mulher agricultora, guardiã das sementes crioulas, e praticante de medicina ameríndia. Perla nos recebeu com um ritual de purificação, onde ela podia purificar nossa alma, e nossa energia. A mesma nos diz “ para entrar em minha casa, é preciso fazer esse ritual de purificação, pois meu lar, meu território, é sagrado, coisas ruins não são bem-vindas. ”
Após o ritual podemos conhecer sua agrofloresta, com culturas de banana, goiabas, laranja, limão, cana de açúcar, e planta nativas, arbustivas, e entre outras. No dia seguinte, a mestra nos ensinou sua criação de galinhas crioulas, e juntas trabalhamos na produção de alimentação orgânica, na ração colocamos, banana triturada, melaço de rapadura, xerém de milho, cálcio, e mistura, depois passa no triturador e armazena em saco de plástico e põe para descansar por 1 mês, e logo está pronto para alimentar as aves.
No momento de translado, avistamos mais da paisagem do município, a represa de triangulo del sul de Tolima, um projeto de irrigação em grande escala, para tentar suprir a necessidade por água aos povos pijao, o enorme e valente rio magdalena, sendo o principal rio da Colômbia, tem aproximadamente 1543 km de extensão, seu percurso o país do sul ao norte. No meio de uma comunidade a outra, conhecemos e nadamos na Quebrada de Yaco, um ponto turístico para as viajantes. E por fim o rio anchique/ painime, sua beleza tem sido fonte de tranquilidade e diversão a população.
O Intercâmbio, foi sem dúvidas algumas, a maravilhosos e caloroso, muito rico em momentos de partilhas, experiências, cheio de culturas e muito trabalho. Poder participar de um estágio agroecológico em outro território, fora do Brasil, com juventude e agricultores em um território indígena, poder conhecer suas culturas, seus costumes, formas de trabalho, história ancestrais e família, e ouvir sobre suas lutas de convivência com o semiárido. Trouxe comigo novas experiências e vivências de trabalho coletivo, forma de organização coletiva, o formato de reunião com os associados, e o trabalho de forma individual junto com a família. O preparo de alimentação de galinhas, preservação e cuidados com solo, o cultivo de bananas, o manejo e criação de peixes, auto-organização, Agroecologia.
O momento de conhecimento foi dinâmico, os diálogos veio de forma aleatória, surgiam em momentos de interação dos envolvidos, os agricultores nos contava como era suas forma de organização e trabalho, logo nós podíamos dividir com eles a nossa forma de trabalhar e cuidar do o solo, nossa conexão e vivência com a natureza, cuidado e a preservação de sementes crioulas, a produção de alimentos para animais, cuidados e manuseio de máquinas forrageiras, e o acesso a política públicas, acesso a comércio local e trabalho com juventudes.
Consegui destacar no intercâmbio a alta carência de políticas públicas voltadas para campesino/as, é forte a necessidade de ter uma assessoria técnica para trabalhar juntos, incentivar, e criar novas formas de trabalho agroecológico. Voltei com mais experiências, com a visão de outras de práticas diferentes que conhecia, mais esperançosa, pois em outros lugares fora do Brasil, existe pessoas lutando por um mundo mais saudável, e harmonioso.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.