Juventudes debatem sobre Intolerância Religiosa e Racismo
“Intolerância Religiosa e Racismo Institucional: impactos nos territórios e nos sagrados dos povos da floresta” foi o tema do encontro que ocorreu em agosto
Samara Santana
Jovem camponesa e feminista, estudante de Agroecologia pela UFRPE e coordenadora do Fórum de Juventudes de Pernambuco(FOJUPE).
O encontro temático “Intolerância Religiosa e Racismo Institucional: impactos nos territórios e nos sagrados dos povos da floresta” promovido pela Plataforma dos Movimentos Sociais aconteceu em Belém, acolhido no Centro de Estudos e Defesa da Negra/o do Pará. O evento aconteceu em agosto com a presença de lideranças religiosas e jovens de diversos territórios do Brasil. Estavam presentes indígenas, quilombolas, representantes das religiões de matriz africana, e cristãos que tornaram singular a mística do encontro em um espaço de resistência histórica.
A organização da Plataforma iniciou-se em 2004 e tem tido um papel importante desde então na construção de alternativas populares pela mudança do sistema político. Tem-se refletido que o termo “reforma” do sistema político já não abrange o suficiente a proposta da Plataforma, tendo em vista que não é possível mudar um sistema que não nos cabe, e sim construir um novo a partir de dentro, visando não uma reforma, mas uma mudança do sistema. Essa é uma discussão que tem sido aprofundada.
O encontro discutiu questões que atravessam os povos indígenas e as lutas na região Norte, aproximando as demais regiões para suas pautas do meio progressista, considerando as dificuldades e desafios que têm sido agravadas com o avanço do fascismo (materializado por meio da atual gestão na presidência da república e as bancadas aliadas) e fundamentalismo religioso nos territórios. Lideranças cristãs, de terreiro, indígenas e quilombolas enriqueceram o debate trazendo para a discussão a resistência nos terreiros e nas manifestações religiosas do povo negro diante dos ataques resultantes do colonialismo unido ao fundamentalismo e o que estas causam nas comunidades periféricas, refletindo os espaços religiosos como espaços políticos de resistência fundamentais para o pensar crítico.
Nas outras regiões, o colonialismo e os impactos do fundamentalismo religioso foram pontuados como parte de um projeto político que se fez mais presente na atual gestão do Governo Federal.
A Terra, enquanto entidade viva, também foi abordada fortemente, bem como o etnocídio, e destruição das matas para servir a um projeto de desenvolvimento que destrói e mata. Os povos indígenas são responsáveis pela preservação de 80% da biodiversidade brasileira, mas suas culturas, sua existência, seu modo de enxergar e cuidar da natureza, são ameaçados desde que o processo de colonização se iniciou no território brasileiro. Um projeto de democracia deve partir do olhar para a terra e para os povos, protagonizado por estes. Colonialismo, laicidade, branquitude, negacionismo, intolerância, questão de gênero e fundamentalismo foram questões norteadoras nas discussões.
Uma concordância geral entre os participantes do encontro é o fato que este ano de eleições é um ano decisivo para a atuação da Plataforma na luta para o fortalecimento do campo popular e democrático. É necessário pensar e fortalecer coletivamente as estratégias práticas de mudança do sistema político, através do apoio às candidaturas indígenas e negras profundamente conectadas com seu meio de vida e sua identidade; que compreende que pensar o Brasil requer pensar integrado ao contexto latino-americano quanto ao pertencimento e cenários políticos; que a preservação dos biomas e dos povos dos territórios sejam centrais no debate e na prática política; que as juventudes estejam sempre presentes nas construções sobre o presente e o futuro da sociedade; que o Estado brasileiro seja, de fato e de direito, um estado laico; que haja enfrentamento a todas as formas de ódio alimentadas pelo fundamentalismo religioso e por um modelo político e ideológico fascista.
A riqueza do debate revelou o tamanho do desafio que temos nos nossos territórios para que essas discussões estejam presentes em nossos fazeres políticos, nos diálogos com as comunidades e com os públicos com quem atuamos nos nossos movimentos. O rompimento e as mudanças começam a partir de dentro – da consciência coletiva, do sistema político.
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