Resistência Indígena nas Ribeiras do Vale do Pajeú

A comunidade Sítio Mundo Novo, no município de Santa Cruz da Baixa Verde, Sertão do Pajeú, foi palco do 1º encontro, na Rota dos Ancestrais, no dia 6 de novembro de 2022.

Wandreson Rodrigues, Agricultor, Técnico em Agroecologia e Graduando em Agroecologia pela UFRPE, Membro da Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia;
Fernando Nogueira(Luiz Pankará), Detentor dos Saberes Tradicionais e Populares, Mestre da Cultura Indígena do Sertão de Pernambuco e Licenciado em História e em Pedagogia
Contribuição de Erenice da Silva, Professora da Rede Municipal de Triunfo e defensora da Cultura Indígena por origem e convicção.

Foto: Kristara Lima

O vale do Pajeú sempre foi marcado pela resistência Indígena das nações Cariri e Tarariú quando no século XVIII, inúmeras bandeiras custeadas pela igreja católica foram levantadas nestes sertões, a fim de conquistar novos territórios para criação de gado. O Rio Pajeú foi um rio de integração onde dois caminhos foram abertos: um descendo o rio pela sua nascente e o outro subindo o vale, partindo da cidade de Itacuruba. As três nações rebeldes eram formadas por índios aldeados nas missões da Gameleira e Baixa Verde com o método de defesa dos seus territórios, gradativamente invadido pelo gado dos moradores incentivados pela política da interiorização.

O rei concedia terras para aldeamentos, onde eram reunidos diversos povos sob a vigilância de missionários, os Capuchinhos Italianos: Frei Vital de Frescarolo e Frei Ângelo Maurício de Niza, atuaram na pacificação dos gentios Pipipãs, Xocós, Vouê, Omarís, Queques, Coremas, Icó, Pegas, Rodeleiros, Bankaru, Manguezá, Aryú, Inxu, Sucuru, Canindé, Natu e Tapuio, os quais, habitavam a Serra Negra, as ribeiras do São Francisco e do Pajeú, onde fundaram três aldeamentos: missões do olho d’água da gameleira, Aldeia do Jacaré e missões da Serra da Baixa Verde. O último aldeamento dos nossos ancestrais foi o da Baixa Verde, atual cidade de Triunfo, se estendendo também ao Município de Santa Cruz da Baixa Verde, palcos de muita resistência indígena na defesa de suas terras onde reafirmam os laços familiares e culturais. Com a morte dos Capuchinhos, o aldeamento sofreu muitos ataques, chegando ao seu declínio. Muitos Indígenas retornaram para seus territórios de origem, Serra Negra; Serra do Arapuá, Serra Umã, Serra do Catolé, Chapada da Borborema, Vale do Pajeú e Ilhas no Rio São Francisco e o Pé da Serra do Araripe.

Foto: Kristara Lima

É notável a existência de muitas comunidades remanescentes indígenas nessas localidades, tendo em vista os traços, costumes, valores presentes, e histórias que são compartilhadas apenas na oralidade, as quais, trazem resquícios do que outrora foi vivenciado pelos descendentes que tinham “raízes” e vivências na aldeia. Por esse motivo, é necessário conduzir o resgate às histórias do nosso povo, e também a valorização das memórias ancestrais, para que não sejam esquecidas e/ou silenciadas pelo descaso e desvalorização da nossa própria identidade. E sabemos que a ruptura entre saber de onde viemos e a construção e produção de novos saberes, prejudica significativamente na construção de nossa identidade.

Com a finalidade de resgate das histórias da nossa descendência e das memórias ancestrais, neste mês de novembro, membros da Etnia Pankará, se direcionaram ao município de Santa Cruz da Baixa Verde-PE para participar do primeiro encontro de fortalecimento de vínculos familiares na comunidade Sítio Mundo Novo, com o tema: Na rota dos Ancestrais. Lá vivenciaram um momento ímpar, que possibilitou várias trocas de saberes ancestrais com anciões, crianças e jovens da comunidade. O encontro fortaleceu muito os vínculos familiares que ali residem com o resgate histórico de suas origens e ancestralidade.

Os anciões compartilharam de suas memórias, como foi sua infância e a resistência de seus familiares enquanto povos tradicionais diante do apagamento histórico e cultural imposto pelo colonizador, e ao som do maracá e a força da fumaça dos Kakis (cachimbo usado na pajelança) essa memória foi compartilhada com os jovens presentes na ancestralidade da Serra do Arapuá e da Serra Umã.

Os anciões relataram inúmeras visitas que recebiam de familiares de ambas serras citadas, e também lembraram de algumas linhas de toré praticadas pelos mesmos em momentos de estadia na comunidade. No decorrer do dia pode-se visitar alguns pontos considerados sagrados para a comunidade, a saber: Mirante do Cruzeiro Mundo Novo e Caldeirão Grande. Diante de tudo que foi relatado, os caminhos percorridos na rota dos ancestrais, desperta-nos à valorização do que somos pelo saber de onde viemos, para assim, sabermos para onde queremos ir e o que queremos buscar.

Foto: Kristara Lima

“É sobre persistir e resistir para existir contemplando vivências do presente, para respeitosamente termos um futuro que valoriza seu povo em suas raízes históricas. ”

Erenice Barbosa

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

Compartilhe

2 comentários

  1. Parabéns amigo Fernando Nongueira e a todos e todas em geral que participaram desse encontro em busca de suas raízes históricas, suas origens, para que possa ser valorizado e divulgado nas gerações do presente e do futuro.

  2. Minha mãe falava que o meu bisavô era filho de uma indígena vinda do Pajeú!! No certidão de nascimento de uma tia avó consta o nome dela Bernardina Ferreira da Cruz!! Não sei afirmar se era a Bernardina ou sua mãe que era indígena!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *