Carta aberta sobre os rumos do MDS

Documento aponta elementos pelos quais ministério deveria se manter sem alterações como vem sendo especulado

Reprodução | Articulação do Semiárido

Ana Mendes/Acervo Centro Sabiá

Excelentíssimo Presidente da República, Sr. Luiz Inácio Lula da Silva

A ASA – Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) – rede formada por mais de 3.000 organizações sociais do Nordeste e de Minas Gerais, juntamente com a CÁRITAS BRASILEIRA, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), vêm através desta carta, na expectativa de serem ouvidas, num momento crucial para as populações mais empobrecidas do Brasil e, de modo especial, do Semiárido brasileiro.

Nesse contexto, queremos nos manifestar contrários a qualquer esfacelamento do Ministério de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), por razões quaisquer que sejam e queremos nos manifestar contrários à entrega do MDS e dos programas sociais e de convivência com o Semiárido ali desenvolvidos, para mãos que nunca demonstraram compromisso com essas causas.

Olhando o MDS, gostaríamos de ressaltar algumas facetas. A água é um direito e o desrespeito a ele levou à morte milhões de pessoas no Semiárido. Seu primeiro governo buscou dar um fim a essa crueldade.

Os processos de convivência com o Semiárido, com ênfase para as cisternas, iniciados no seu primeiro Governo, configuram-se em silenciosa revolução, reconhecida, inclusive, internacionalmente. Inúmeros países nos buscam para aprender esses caminhos conosco. São 1.200.000 famílias com água para beber e 200.000 com água para produzir alimentos. Interrompidas na gestão anterior, essas iniciativas estão sendo gradativamente retomadas, numa gestão segura e fiel aos princípios da ação e que se baseia no que foi historicamente construído. Isso significa esperança para milhares de pessoas e é resultado de uma gestão competente dada ao Programa Cisternas pelo MDS. Interromper esta gestão e esses processos, tão arduamente desenhados na transição e agora implementados, significa desconhecer a contribuição da sociedade e das organizações no diagnóstico e montagem dos Ministérios de seu Governo.

É preciso reforçar que as políticas públicas atualmente executadas pelo MDS foram duramente construídas na resistência e luta das organizações sociais e  desenhadas, sobretudo, no período de transição do governo de onde saímos de uma necropolítica para uma gestão alicerçada na participação popular. Manter o MDS nessas bases sólidas e democráticas significa garantir a todo o país políticas públicas de qualidade, com controle social e que visam o empoderamento e a emancipação dos indivíduos em seus territórios.

Não nos enxergamos nem no esfacelamento do MDS nem em sua entrega para possíveis processos que não se coadunem com o que, historicamente, foi construído.

O Brasil e, de modo todo especial o Semiárido, não merecem a interrupção dos programas que lhe garantiram mais qualidade de vida; e nem merecem gestões outras que não reconheçam os princípios, metodologias e processos que, vivencialmente, foram construídos.

Há um déficit de cerca de 400.000 cisternas de captação de água para o consumo humano e de cerca de 800.000 implementos de captação de água para produção de alimentos. Temos de zerar este déficit na mesma política de participação social intensa.

Avaliamos também que a convivência com o Semiárido não são apenas cisternas, mas um conjunto de ações coordenadas, como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e os múltiplos programas que integram esta pasta. Engloba a convivência com o Semiárido todo o processo de construção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, tão arduamente levado a efeito pelo Consea Nacional, com forte respaldo do MDS.

O Semiárido e o Brasil não merecem que essas políticas sejam desmontadas ou descaracterizadas.

Nossa discordância não é administrativa e sim política. Queremos um MDS unificado; queremos o Programa Cisternas, queremos o SUAS, queremos o SISAN e o CAD Único juntos.

Por um Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome para as brasileiras e os brasileiros! 

Por um Semiárido vivo!

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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