Encontro consolida a união dos povos pela convivência com o Semiárido


O compromisso com a unidade dos movimentos foi apontado, pelos integrantes da mesa,
como a saída para enfrentar a crise | Foto: Ellen Dias

“Como eu sou persistente, disse não vou desistir. Dos arredores de casa saí cuidando a sorrir. Tirei a lixarada todinha e fui plantando mudinha. Só pensando em progredir”.  Luzia Bezerra da Silva, Lita  Serra velha / Itatuba-PB

Por Elka Macedo (Assessoria de Comunicação da ASA Brasil)

É a história de perseverança e resiliência traduzida nos versos de Dona Lita e vivenciada por milhares de Joões e Marias que habitam o Semiárido brasileiro, que nutre a luta e a resistência da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). E foi neste clima que aconteceu entre os dias 21 e 25 deste mês, o IX Encontro Nacional da ASA (EnconASA), na cidade de Mossoró (RN). “A gente se pergunta: o que fizemos nesses dias de EnconASA? Viemos povos e territórios que estamos fazendo a transformação do Semiárido. Vimos o caminho que fizemos e sabemos que esse caminho constrói justiça e marca a construção de uma sociedade diferente. Vimos que a ASA não construiu isso sozinha, nós construímos em parceria com muitos movimentos, e neste EnconASA, a ASA assume este compromisso de continuar o caminho. O objetivo nosso é que a gente continue a construção desse Semiárido mais justo. É o caminho que está presente na nossa vida, na nossa luta. E nestes caminhos nós somos fortes porque somos diversos”, Naidison Baptista, Coordenador-executivo da ASA Brasil.

As reflexões em torno do que fazemos e para onde vamos, permearam todos os dias do evento que congregou mais de 500 pessoas entre movimentos sociais, parceiros e agricultores/as familiares de todos os estados que compõem o Semiárido. A última mesa do evento que trouxe como tema “Construção da Unidade e Lutas Comuns pela Democracia e Direitos”, expôs diversos posicionamentos acerca das saídas para o enfrentamento da crise política, retrocessos no campo dos direitos e da democracia. As elucidações partiram da visão de diversos movimentos e entidades ligadas ao campo, ao direito das mulheres e dos jovens.

Participaram da mesa, Luiz Piritiba do levante Popular da Juventude, Verônica Santana do Movimento das Mulheres Trabalhadoras do Nordeste (MMTR), Joana Almeida da Contag, Alexandre Conceição da Via Campesina; Fábio Carneiro Rodrigues da Frente Povo sem Medo, Isolda Dantas representando a Frente Brasil Popular, Maria Joseane pelo Condraf, Fátima Bezerra – Senadora (PT) pelo estado do Rio Grande do Norte e Naidison Baptista da ASA Brasil.

Nesta perspectiva, a urgência de estabelecer uma unidade entre os movimentos que lutam por direitos no Brasil foi unânime na fala dos integrantes da mesa. “Depois de 31 de agosto (Dia em que foi aprovado o impeachment da Presidenta Dilma Roussef) é o primeiro momento que conseguimos reunir tantos movimentos. A ASA está fortalecendo esta unidade. 2016 é um ano de grande aprendizado, mas o desafio é pensar quais são nossas estratégias, qual o nosso ponto de unidade. Nenhum segmento é capaz de apontar saídas sozinho; por isso precisamos retomar valores socialistas, mas não como receita! Precisamos moldá-los de acordo com a nossa necessidade e juntos construirmos um projeto estratégico que tenha a cara do povo brasileiro”, salientou o jovem Luiz Piritiba.

A feminista e militante do MMTR, Verônica de Santana, enfatizou que é preciso também integrar as bandeiras ao invés de fortalecer movimentos de classes individuais. “Unificar a nossa luta é dizer que precisamos construir espaços livres de preconceito. Precisamos entender que questão de gênero, não é só questão das mulheres, racismo não é só luta de negro; juventude não é só questão de jovens. A gente não vai ter essa unidade enquanto não unificarmos nossa luta”, explicou destacando que tem sido muito difícil para o movimento de mulheres combater sozinho a cultura do estupro, por exemplo.

A mesa de encerramento foi realizada no Dia Latinoamericano de Luta pela Não Violência Contra as Mulheres (25 de novembro). Desse modo, a integrante da Frente Brasil Popular, Isolda Dantas lembrou a data e salientou que essa é luta de todos/as. “Não queremos um Semiárido vivo silenciado pela violência contra as mulheres. Nós não queremos a planta sem veneno e suja com sangue das mulheres. Nosso desafio é lutar por nenhum direito a menos e construir um projeto político estratégico para combater o modelo político dominante. Essa luta sistêmica tem que partir da classe trabalhadora. Outro desafio é fazer trabalho de base. Queremos reafirmar a urgência da unidade de toda a classe trabalhadora. É fundamental lutar por uma reforma política. Não é possível que nós mulheres, sigamos tão mal representadas nas eleições”, questionou.

O cenário de desmonte de direitos e o esforço da extrema direita em retirar as conquistas da classe trabalhadora estiveram na pauta dos debates, seja introduzida por facilitadores das mesas e debates ou pelos participantes nos momentos chamados de “fila do povo”. Para a integrante da Contag, Joana Almeida, é preciso se atentar para o que está por vir.  “A gente acredita que o governo Temer já está no fim. O que preocupa é o que vem depois dele. No momento eles não querem o fim da corrupção, eles querem o monopólio da corrupção, isso porque a justiça brasileira tem lado. Nós temos o desafio de conquistar as mentes e os corações das populações e essa é uma disputa injusta. Sabemos que a unidade não vai ter sucesso, se não tivermos uma estratégia de comunicação de massa que leva informação para o povo”, aconselhou.


Aprovação da Carta Política pelos/as participantes do IX EnconASA | Foto: Ellen Dias

O momento apontou importantes rumos que devem ser absorvidos pelos movimentos sociais, articulações, trabalhadores/as e suas entidades de classe para que se construam dias melhores, e seja possível resistir às ofensivas deste governo. A visão otimista de Fábio Carneiro, membro da Frente Popular Povo sem Medo, é mais um exemplo de que há um grande esforço das populações de ultrapassar essa página obscura da história do país. “A nossa saída vai ser popular, neste sentido as construções dessas frentes nacionais são fundamentais para construir unidade. A gente vai resistir aos ataques do governo, à PEC do fim do mundo. É importante que nos mantenhamos na luta e nos fortaleçamos”, reiterou.

Após a mesa foi lida e aprovada a Carta Política do IX Encontro Nacional da ASA (EnconASA), com o tema Povos e territórios, construindo e transformando o Semiárido, mesmo tema do evento. Neste momento desafiador, a carta expressa quais são as forças que mantém viva a chama da luta e da esperança e quais os compromissos que serão assumidos de agora em diante, com prioridade para participação da juventude, das mulheres e da comunicação como direito e estratégia política.

O momento também contou com a leitura da Moção da ASA Maranhão, que solicita a criação de um Grupo de Trabalho que lute pelo reconhecimento do leste do Maranhão como território do Semiárido, e da leitura da Carta Política da Juventude. No final da manhã, ao som do samba de parêa do Sergipe foi anunciado o local que receberá a X edição do EnconASA. O evento que está previsto para ser realizado no ano de 2020, acontecerá entre os estados de Alagoas e Sergipe, nas cidades de Canindé do São Francisco (SE) e Piranhas (AL).

 

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