LGBTFOBIA no Campo

Foto: Diana Cavalcanti

Por: Adriano Ferreira Lima, jovem multiplicador da agroecologia do município de Catende/PE.

Há tempos que a população LGBTQI+ vem sofrendo com violações de direitos básicos que são negados aos mesmos, essas violações aumentam quando falamos da realidade vivida nas cidades do interior, onde o conservadorismo impera.

Muitos jovens que se reconhecem com orientações sexuais diferentes e precisam viver escondidos/as dentro de seus corpos, a questão geográfica também é fator determinante para que eles/as acreditem que sair do campo e ir para a cidade seja a única oportunidade de se libertar da prisão que os impede de serem felizes. Claro que para além de todo isso, o/a jovem tem a ilusão de que nas grandes cidades terão oportunidades de emprego e serão “aceitos”, “respeitados” por suas escolhas. O que sabemos que, na prática, não acontece. Ou seja, o preconceito e a homofobia está presente tanto no campo como na cidade.

Podemos dizer que houve nos últimos tempos vários avanços, mas também inúmeros retrocessos para as populações LGBTQI+. Há projetos que garantem o casamento, a adoção de crianças, o nome social, mas, são coisas que ainda não são leis, apenas projetos aprovados. Muitas igrejas se recusam a celebrar essa união, acredito que mesmo sendo lei, continuará a discriminação, que hoje tem sido alimentada pelo modelo antidemocrático e homofóbico do atual presidente da república Jair Bolsonaro e de todos/as os/as brasileiros e brasileiras que acreditam neste projeto excludente e que extermina “o diferente”, pois se trata de uma aberração e não é bem visto aos olhos de “Deus”. É pautado neste discurso que a homofobia cresce diariamente e só quem sente na pele sabe exatamente do eu estou falando.

Quero deixar claro que para apoiar a nossa luta não significa que a pessoa seja ou tenha que ser LGBTQI+, estamos falando de seres humanos que lutam diariamente para garantir o direito de ser verdadeiramente como são, mas isto incomoda tantas pessoas. O interessante é que, em alguns casos, estas mesmas pessoas que nos “negam”, “xingam”, excluem e “ridicularizam” são as mesmas pessoas que nos procuram na calada da noite, geralmente para encontros pontuais as escondidas, pois eles jamais poderiam ser vistos com um gay. E o pior que na sua maioria são homens casados e com filhos, que a noite se envolvem com gays e travestis e no dia seguinte as apedrejam e até os matam como se fossem animais. É triste falar de tudo isso, mas é a realidade que vemos e vivemos na pele dia após dia. Como foi o caso de Dandara dos Santos que foi morta em fevereiro de 2017 no estado do Ceará, um caso chocante, sentimos as dores daquela pobre inocente que foi agredida e torturada no meio da rua e ninguém fez nada. Ela foi espancada e depois colocada dentro de um carro de mão, levada para um campo onde foi morta a tiros por adolescentes. Dandara não foi a primeira e nem a última, é preciso dar um basta a este extermínio, é preciso garantir espaço de discussão e conscientização da sociedade de um modo geral para dialogar sobre uma coisa que parece tão simples e óbvia que é o RESPEITO. É preciso garantir políticas públicas estruturantes que acolham estas populações em suas especificidades e diversidade. Este debate precisa estar nas escolas, igrejas, sindicatos, associações e tantos outros espaços na esfera pública e privada, onde também acontecem muitas situações de violências de diversas ordens.

Enfim, são muitas Dandaras, Sandros… até quando? Eu exijo respeito as minhas escolhas, ao meu corpo, a minha sexualidade, a minha religiosidade, nós só queremos viver e sem precisar se esconder, fingindo que somos “hetero” para sermos aceitos/as. É muito difícil ter que viver com uma máscara, isso gera muita dor e sofrimento. Antes, eu não tinha coagem de lutar e de agir, hoje me libertei dessa prisão, tenho ao meu lado pessoas que gostam de mim, que me protegem caso eu precise, mesmo sem declarar que sou isso ou aquilo. Pra mim, ser resolvido comigo mesmo foi o que me fez crescer e fazer parte da Comissão de Jovens Multiplicadoras/es da Agroecologia também me fez ser quem eu sou hoje, feliz e disposto a lutar para que as Dandaras, Sandros e tantos outros possam VIVER.

Para Edson Cipriano que mora no Sitio Riachos de Pedra no município de Cumaru-PE, as dificuldades ainda existem, são olhares tortos, falatórios pelas costas, piadas de mau gosto, falta de emprego por sermos LGBT e nos julgarem diferentes dos demais. Cipriano conta que após se casar com seu companheiro, as coisas mudaram um pouco, mas que hoje pra ele está tudo normal. “Meus pais não aceitam minha união dentro da casa deles, mas vivo feliz, que falem de mim ou que não falem, to seguindo minha vida de cabeça erguida e pronto para enfrentar o que for preciso, na comunidade as pessoas julgam bastante mais isso não me afeta mais”.

Por isso, finalizo afirmando que “as gays, as bi, as trava e as sapatão estão todas organizadas pra fazer a revolução”. Porque com Homofobia não há agroecologia!

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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