Espaço Agroecológico: 17 anos de história e organização

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Por Davi Fantuzzi (assessor de comercialização do Centro Sabiá)

Nesse ano de 2014 o Espaço Agroecológico do bairro das Graças, o mais antigo do Recife, completou com muita festa seus 17 anos de idade. As famílias agricultoras e suas associações que, juntamente com a assessoria do Centro Sabiá, se organizam em Rede para construir essa Feira Agroecológica aproveitaram todo o mês de outubro para além de celebrar, levar informação e cultura para os consumidores.

Foram quatro sábados prazerosos onde recebemos a presença de Hilda Gil, que ensinou a fazer pratos criativos para a alimentação infantil com os produtos encontrados na Feira. Contamos também com a palestra do Dr. Celerino Carriconde, que falou sobre a relação da alimentação com a saúde e da Dra. Ide Gurgel que nos trouxe mais elementos para entender os perigos dos alimentos envenenados com agrotóxicos e as vantagens de se alimentar com alimentos agroecológicos. Nas atrações culturais esteve presente o músico Paulo Matricó que, juntamente com o Flautista Dau Barros, agraciou a todos com boa música e poesia. A Banda Forró Sem Pantim, que tem como sanfoneiro um dos agricultores da Rede, Rafael Justino, também estava lá, e, assim como já é de costume, a agradável música dos próprios consumidores que frequentam a Feira.

Além de ser momento de comemorar, nos aniversários aproveitamos também para lembrar nossa história, fazer balanços e pensar no futuro. A Rede Espaço Agroecológico é uma articulação de sete organizações de agricultores e de assessoria que se organizam para comercializar produtos agroecológicos e que começou a ser gestada entre os anos 1995 a 1997, quando as famílias agricultoras e o Centro Sabiá promoveram vários debates e seminários sobre a temática do beneficiamento e da comercialização. Como consequência das diversas discussões e reflexões, foi realizada a primeira experiência concreta de comercialização na comunidade de Umari, no município de Bom Jardim, onde o Centro Sabiá assessorava agricultores e agricultoras agroflorestais e havia uma série de fatores que propiciavam a realização de uma experiência inovadora de comercialização de produtos agroecológicos para a época.

Ainda no ano de 1997 a experiência de Umari chegou ao fim, principalmente pelo baixo movimento de consumidores. Mas, mesmo com essa e outras dificuldades identificadas, a experiência foi um grande aprendizado para todos os envolvidos.

No dia 12 de outubro de 1997 (em comemoração ao Dia Mundial da Alimentação, celebrado oficialmente no dia 16) o Centro Sabiá e outras organizações promoveram uma exposição de produtos agroecológicos na cidade do Recife. Foi um dos passos mais importantes para a construção permanente da primeira Feira Agroecológica na capital pernambucana, que já nasceu no Bairro das Graças.

De lá para cá a Rede se fortaleceu e se consolidou criando um segundo Espaço Agroecológico no bairro de Boa Viagem, conquistando a confiança dos consumidores e ampliando o número de agricultores e a diversidade de produtos.

Mas a falta de apoio por parte do poder público ainda é um grande desafio para todas as Feiras Agroecológicas em Recife. A legislação municipal para as feiras livres é muito vaga e a atuação do poder público é no geral descomprometida. As famílias agricultoras apesar de prestar um importante serviço à população recifense oferecendo alimentos saudáveis, a preços justos, com regularidade, quantidade e diversidade, ainda tem que arcar com custos como a segurança particular das Feiras, locação de espaço para guardar uma infraestrutura mínima de barracas e outros equipamentos, além de não ter acesso a banheiros públicos, o que afeta diretamente não só os feirantes, mas também os consumidores que frequentam esses espaços.

Ao longe dessa história, os consumidores das Feiras Agroecológicas das Graças e de Boa Viagem sempre contribuíram muito, apoiando as famílias agricultoras de diversas formas, como por exemplo, em 1999, quando a Feira ainda se consolidava e tinha dificuldade de recurso e foi criado um crédito solidário. A iniciativa consistia no pagamento antecipado dos produtos, pelos consumidores, gerando créditos que iam sendo descontados na medida em que as Feiras iam acontecendo. Ou mesmo durante esse último aniversário, quando consumidores contribuíram com os contatos junto a atrações culturais e palestrantes, alguns destes que são inclusive consumidores assíduos das Feiras.

Apesar de todo esse histórico de colaboração, a Rede percebe que ainda há muito a avançar na participação dos consumidores nos espaços de gestão das Feiras. Poucos consumidores tem dimensão de todo o aparato organizativo que existe para que essa iniciativa se mantenha firme nos princípios da agroecologia, como a coordenação formada por três agricultores e agricultoras em cada uma das Feiras, o regimento interno da Rede, que estabelece diversas regras para o coletivo e para seu funcionamento, e as assembleias gerais, momentos de discussão coletiva entre todos e todas e definição de posições importantes. Os preços dos produtos comercializados, por exemplo, seguem uma tabela, que só pode ser alterada em assembleia, para garantir que não haja concorrência desleal entre as próprias famílias.

A história dessa Rede é construída por todos e todas, sejam agricultores e agricultoras, consumidores e consumidoras e técnicos e técnicas, que graças à capacidade de buscar constantemente a evolução dessa experiência conseguiram consolidá-la e aprimorá-la. Sabemos dos desafios, mas nos mantemos firmes no nosso foco, que é a construção participativa de espaços de comercialização agroecológica que propiciem também a convivência e troca de aprendizados entre seus participantes, por isso acreditamos que a Rede Espaços Agroecológico e suas Feiras ainda vão soprar muitas e muitas velinhas e comemorar muitas outras conquistas.

Clique aqui para conferir mais fotos do aniversário do Espaço Agroecológica em nossa galeria! 


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Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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