Fetape: 52 anos de lutas pela cidadania e dignidade de trabalhadores/as rurais

No último dia 06 de Junho, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape), completou 52 anos. O Canto do Sabiá realizou uma entrevista com Doriel Barros, presidente da Federação, para conversar conosco sobre as principais causas defendidas pela organização, os problemas enfrentados e o futuro da Federação.

Paralização no Derby - Ato Zona da Mata - 31.03 18Em março agricultores e agricultoras distribuíram alimentos no Centro do Recife em manifestação puxada pela Fetape pela Restruturação Socioprodutiva da Zona da Mata

por Alex Carvalho (Centro Sabiá)

O Canto do Sabiá – A Fetape é uma das mais importantes organizações sindicais que lutam pela causa dos trabalhadores rurais em Pernambuco. Qual a visão que a Fetape tem do seu compromisso com os trabalhadores rurais?
Doriel Barros – A Fetape, historicamente, sempre implementou grandes lutas para assegurar cidadania e dignidade aos trabalhadores rurais. Tanto os trabalhadores assalariados rurais, como os agricultores familiares. Então, essa caminhada de 52 anos tem tido muitos resultados, no embate, na cobrança das políticas públicas para os trabalhadores rurais. Hoje, a gente percebe claramente que muitas políticas chegaram aos trabalhadores como resultados da luta da Fetape, dos seus sindicatos, em parceria também com as organizações que defendem o mesmo projeto de sociedade que também defendemos.

OCS– Qual a maior dificuldade encontrada no momento na luta da Federação?
DB – A gente identifica que a luta pela terra, a Reforma Agrária, é um dos grandes desafios que temos, em função da grande dificuldade que temos encontrado por parte dos governantes em ter uma política realmente de fortalecimento da Reforma Agrária. Não só no processo de desapropriação, mas também do próprio processo produtivo. A produção agroecológica é um dos grandes desafios que temos. Em Pernambuco, existe um número muito grande de assentamentos, principalmente na região da Zona da Mata, onde poderia se ter um grande processo de produção de alimentos saudáveis, e a gente não consegue ter, da parte dos governos esse retorno. Até ao governo Federal nós temos feito a cobrança de ter uma ação mais forte do ponto de vista da Reforma Agrária, como também a postura dos governos, tanto estadual, quanto municipais que acham que essa área de Reforma Agrária é apenas de responsabilidade do governo Federal, e não é. As pessoas vivem nos municípios, no estado e, portanto, precisam ter desses governos uma ação mais forte no apoio a esses trabalhadores no processo produtivo.

OCS– Uma das principais ações da Fetape, neste ano, foram os bloqueios de BRs realizados por mais de dois mil trabalhadores e trabalhadoras rurais da Zona da Mata, em março. Mobilizações como essas ajudam de que forma nos problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais?
DB – A Fetape sempre teve processos de mobilização, de cobranças e, tivemos que intensificar isso mais ainda além da dimensão dos atos visando os Governantes, para chamar a atenção da sociedade também para a situação que vive o povo do campo. Então, foi preciso a gente utilizar desses instrumentos de mobilização, juntamente com os parceiros, para mostrar a dificuldade que Pernambuco está vivendo. Apesar de ter números que mostram o Estado como um dos que mais cresce. Esse crescimento não está junto aos trabalhadores, tem uma contradição muito grande aí. Temos grandes empreendimentos, uma ação do governo voltada para esses empreendimentos, esquecendo a agricultura familiar que tem em Pernambuco um grande potencial produtivo, de contribuir para o desenvolvimento, para a segurança alimentar do estado. Nesses últimos dois anos a região da Zona da Mata vem sofrendo um processo de desemprego muito grande. O Sertão vivenciou uma grande estiagem, tivemos grandes dificuldades e restaram apenas os programas governamentais federais para tentar salvar os pequenos animais e até mesmo as pessoas conseguirem ter condições de vencer essa grande estiagem. Então, foi um momento muito difícil que exigiu da Fetape e das organizações denunciarem à sociedade as dificuldades e a falta de atenção dos governos do estado e municipais a situação que passavam os agricultores e as agricultoras familiares.

OCS- Várias reivindicações dos trabalhadores rurais da Zona da Mata foram reunidas no documento “Diretrizes para reestruturação socioprodutiva da Zona da Mata”, que foi entregue em agosto de 2013 aos governos estadual e Federal. Quais são os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais atualmente?
DB – Nós construímos dois grandes documentos importantes com a participação dos parceiros, que foram as duas cartilhas de diretrizes: uma que trata do conjunto de políticas na questão de convivência com o Semiárido e a reestruturação socioprodutiva da Zona da Mata. Em relação a essa última, infelizmente, não tivemos do governo de Pernambuco uma atenção a essa pauta feita pelos trabalhadores e pelas organizações. Até agora não fomos chamados pelo governo do estado para discutir esse documento que foi construído com um olhar das organizações que vivem na região e que é uma região que precisa urgentemente de uma ação do Estado. Mas, o movimento sindical, juntamente com os parceiros, não só fez o processo de cobrança, mas também apresentou propostas que, se reconhecidas e implementadas pelo governo, teríamos outra condição de vida dessa gente que vive no campo, na região Semiárida, e especialmente os trabalhadores da Zona da Mata que vivem uma das maiores crises dos últimos anos. Mas, continuamos nesse embate, temos uma proposta concreta e esperamos que o governo assuma o compromisso. Por isso, vamos ter eleições este ano e a Fetape tem feito um trabalho de orientação da sua base, dos seus dirigentes para que a gente possa ter cada vez mais condição para votar naqueles que assumem um compromisso direto de implementar as propostas que nós defendemos como importantes para o fortalecimento das questões que estão no campo, dando as pessoas condições de poderem viver com dignidade.

OCS – Quais são as próximas ações a serem realizadas pela Fetape?
DB – A Fetape, este ano, está realizando o seu congresso, entre os dias 31 de julho a 02 de agosto, onde vamos atualizar nossas bandeiras de luta, os próximos desafios que teremos para os próximos quatro anos. Então, o congresso vai eleger a nova diretoria, e atualizar o plano de lutas, mas com certeza a Fetape vai continuar fazendo processo de cobranças, de mobilização. Um dos grandes desafios que está colocado é o de fazer o debate com a nossa base sobre a participação do nosso povo nas eleições. Isso é uma das coisas que está colocada dentro das orientações políticas da Fetape para este ano. Orientar nossa gente para fazer o debate, uma discussão política que possa realmente favorecer a um novo momento que a gente tá vivendo tanto de continuidade das coisas boas, como de mudanças de algumas coisas que a gente entende que precisa ser mudado em nosso estado e no Congresso Nacional.


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