Aliança dos Povos pelo Clima fortalece vozes no Território Indígena do Xingu em Mato Grosso

Por Sival Fiuza
Acadêmico de Letras pela UFRPE/UAST, jovem Multiplicador da Agroecologia e integrante da Plataforma Semiáridos América Latina

Foto: CJMA

Entre os dias 26 de agosto e 01 de setembro, a Aldeia Mupá, na Terra Indígena Capoto Jarina (MT), foi palco de um encontro histórico que reuniu povos originários, quilombolas, camponeses, juventudes e organizações internacionais em torno da Aliança dos Povos pelo Clima. O objetivo foi construir coletivamente uma campanha que ecoe dentro e fora da COP30, reafirmando que a luta por justiça climática nasce e se fortalece nos territórios.

A abertura do encontro foi marcada pelo chamado dos povos da floresta, ela surge ainda nos anos 1980, com figuras como Chico Mendes, Ailton Krenak e lideranças da Amazônia, e se renova agora com a força de novas gerações.

As boas-vindas foram conduzidas por Val Munduruku, responsável pela logística do evento. Em seguida, houve falas de lideranças locais da Aldeia Mupá, além da apresentação das mulheres da aldeia. A juventude também esteve no centro do encontro, com destaque para a presença de Angélica Mendes, neta de Chico Mendes, que apresentou os jovens articuladores da campanha.

O encontro contou com a presença de povos indígenas do Brasil e da América Latina, como os K’iche’ Maya (Guatemala), Quíchua (Equador), Kuna (Panamá), além dos Kayapós (Mẽbêngôkre), Juruna (Iudjá), Tapayuna, Munduruku e muitos outros povos. Também participaram representantes quilombolas, camponeses, povos do Cerrado, da Caatinga, das águas e das florestas. Essa pluralidade demonstrou que a crise climática atravessa fronteiras, mas também que a resistência é global e coletiva.

A presença do Cacique Raoni Metuktire, liderança Kayapó reconhecida internacionalmente, trouxe ainda mais força ao encontro. Em conversa com a juventude, ele destacou a importância da continuidade da luta:

“A geração nova precisa estar em consenso uns com os outros. A minha luta é constante até hoje, pela preservação da harmonia e do bem viver de todos os povos. Consegui acabar com a guerra dos meus antepassados e trazer paz entre nós nos territórios. Transmito essa luta para que vocês possam refletir e dar continuidade.” Declarou Raoni Metuktire. As palavras de Raoni emocionaram os participantes e reafirmaram que resistência é herança ancestral.

Durante os dias de trabalho, foi construída uma campanha real (não uma simulação) sobre financiamento climático. A proposta é direcionada a negociadores, fundos filantrópicos, organizações e governos locais, garantindo que os recursos cheguem à base e fortaleçam as comunidades. No primeiro momento, foram definidos os atores estratégicos e a programação das ações, que somam mais de 40 iniciativas.

A reflexão central foi clara: “Os problemas climáticos não estão na COP, estão nos territórios.” Por isso, a campanha busca ecoar a voz das comunidades que resistem, mostrando que não existe justiça climática sem justiça territorial. O encontro também discutiu os desafios da participação dos povos tradicionais em espaços internacionais, lembrando que, na conferência de Bonn (Alemanha), os povos não foram reconhecidos como parte fundamental na mitigação da crise climática.

A Comissão de Jovens Multiplicadores da Agroecologia (CJMA) marcou presença no encontro, reafirmando o papel central da juventude na defesa dos territórios e na construção de alternativas sustentáveis diante da crise climática. Entre os representantes, esteve Sival Fiuza, que integra a CJMA e também a Plataforma Semiáridos, fortalecendo a ponte entre agroecologia, juventude e os desafios do semiárido nordestino. Ao lado dele, Ezequiel Tremembé, também da Plataforma Semiáridos, trouxe sua voz para o diálogo.

Na ocasião, Ezequiel destacou a importância de garantir que os recursos internacionais realmente cheguem até a base: “É nos territórios que permanecemos e é neles que sentimos, na pele, os impactos das mudanças climáticas É preciso garantir que os fundos cheguem até nossas comunidades para que possamos ecoar nossa voz dentro da COP e pensar soluções reais para o clima. Sem isso, não há justiça climática.”

A participação de Sival e Ezequiel reafirma que a luta climática não pode estar dissociada das experiências concretas dos povos do semiárido, onde a resistência cotidiana se soma à construção de alternativas agroecológicas para o presente e o futuro.O encontro na Aldeia Mupá deixou uma mensagem clara: a Aliança dos Povos pelo Clima está se fortalecendo. A campanha seguirá reverberando para que as vozes da floresta, do campo, das águas e das comunidades tradicionais sejam ouvidas nos cantos mais distantes do planeta. Aqui reafirmamos: resistência é coletiva e a esperança é ancestral.

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