Projeto Ação Fotográfica traz novos olhares para a iniciação fotográfica e a autopublicação como uma ferramenta de problematização e de divulgação das questões das comunidades rurais

Valdirene Alves
Agricultora e membro da Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia

Valdirene Alves

Entre os dias 21 e 22 de outubro de 2022 na sede da Associação dos/as Trabalhadores/as Rurais do Sítio Poço Grande, situado na cidade de Flores no Sertão do Pajeú, aconteceu a Oficina de Ação Fotográfica. Contou com a participação de 12 pessoas, sendo 2 homens e 10 mulheres. Destes/as 7 participantes eram jovens e 5 mulheres adultas. O facilitador da Oficina, Eric Gomes de 43 anos, explica que: “Ação Fotográfica é um projeto em parceria com o Centro Sabiá e a Comissão de Jovens Multiplicadores/as de Agroecologia, financiado pelo Governo do Estado de Pernambuco a partir do Funcultura. A ideia é a gente trabalhar a iniciação fotográfica e a auto publicação, não pensando meramente na coisa técnica mas tendo a fotografia e a imagem como uma ferramenta de problematização e de divulgação das questões daquela comunidade. Por isso, é fundamental a participação da comunidade onde o mesmo será desenvolvido, pois são estes sujeitos que levantarão as questões que serão trabalhadas, problematizadas. Gerando assim a troca real de saberes, porque eu chego com alguma habilidade um pouco mais desenvolvida em relação a fotografia e a auto publicação e as pessoas com quem estou trabalhando tem as suas habilidades, também bastante desenvolvidas, em outras áreas que eu não tenho. Então a gente junta tudo isso e trabalha a imagem e a representação com a culminância da elaboração de um livreto.

Valdirene Alves

Este livreto é impresso e encadernado com a técnica da brochura, costurando com linha e agulha. Flores que foi a primeira etapa do projeto, a turma escolheu trabalhar com o tema do Sistema RAC/SAF (Reuso de Águas Cinzas). Assim, foram feitas fotografias e vídeos desses sistemas, alguns mais antigos e outros mais novos para fazermos o trabalho. Vale destacar que eu sempre vejo esses encontros como uma grande oportunidade da gente se articular não só politicamente como artisticamente. Por isso, costumo dizer que nós já sabemos fotografar, já trabalhamos com imagem intuitivamente ou no mínimo de alguma forma mais pensada e elaborada. Por exemplo: Quando a gente está conversando com alguém e quer passar uma mensagem em alguma rede social ou em algum dispositivo de troca de mensagens, é muito comum hoje em dia, passar um vídeo ou uma foto. E assim, estamos nos comunicando com imagem, além disso, um pouco antes dessas ferramentas a gente trabalhava com a imagem o tempo inteiro, como na representação quando escolhemos as nossas roupas ou o que vamos usar naquele dia. Quando escolhemos o corte de cabelo, o penteado, quando a gente escolhe os adereços que vamos colocar no nosso corpo sejam eles fixos como uma tatuagem ou sejam eles removíveis como brinco, maquiagem, colar e por aí em diante.

Então, tudo isso são elementos da composição da nossa própria imagem com o desejo de comunicar algo para o nosso grupo, para alguém, para outras pessoas ou para outros grupos. Por isso, reafirmo que trabalhamos o tempo inteiro com imagens e a comunicação a partir da imagem. E meu papel aqui é apenas lembrar sobre isso para podermos potencializar esse tipo de comportamento, essa ferramenta para gente tentar melhorar o nosso entorno, o nosso ambiente naquilo que achamos necessário. No caso deste primeiro encontro, os/as jovens de Flores escolheram trabalhar com RAC/SAF e para mim, isso foi incrível. Especialmente pelo contexto atual (tenebroso), com atos antidemocráticos presentes em nosso cotidiano tanto em nível local, estadual como nacional. É por isso que esta ação se configura como encorajadora e de muita esperança, pois trocar experiências com essas pessoas, que trabalham e vivem no sertão, para mim é sempre algo que renova as esperanças e energias. E enquanto trabalho coletivo é um super ganho também porque estamos ali tentando fortalecer essa cadeia, essa corrente para que os nossos contextos de vida melhorem e que possamos andar para frente, trazendo melhoras significativas para nossas vidas”.

Para mim, que faço parte da comunidade e assumi a tarefa de ajudar na articulação e mobilização para que a atividade acontecesse, foi um grande prazer. O tema que escolhemos tem muita força hoje em nossa comunidade, pois mais da metade das companheiras que estão no grupo de mulheres possui um sistema de RAC/SAF. Na atividade, o grupo foi dividido para conhecer duas experiências, a primeira foi na minha casa, onde o sistema é recente, foi implantado no começo desse ano e lá pode se ver o processo de crescimento e dos manejos que tem sido feito. O segundo foi a casa da agricultora Deasolange Romão da Silva, onde o sistema já está funcionando há quatro anos, assim pudemos fazer uma comparação e vermos a evolução de um sistema de agrofloresta e os benefícios que traz para as famílias. O sistema do Reuso de Águas Cinzas (RAC), associado ao Sistema Agroflorestal (SAF), promove uma destinação social e ambientalmente correta à água, normalmente descartada no solo após o uso nas residências (banho, lavagem de pratos, de roupas, pias). As águas cinzas filtradas pelo sistema são direcionadas para um quintal produtivo diversificado e agroecológico, sendo um processo de saneamento básico na zona rural. Com a utilização desse sistema é possível produzir alimentos de qualidade, como também produzir alimentação para os animais. Assim, o RAC/SAF, traz esperança para o povo do semiárido nordestino.

Depoimentos dos/as participantes da atividade:

“Eu me chamo Marcos André Gomes Pereira, tenho 20 anos e participei de uma das melhores atividades que envolve fotografia, que foi esta do projeto ação fotográfica. Nela aprendi, dentre tantas outras coisas que é preciso ter a capacidade de antecipar o movimento que pretende captar quando a pessoa estiver se movimentando…e também que é muito importante ter a permissão do personagem para postar sua imagem”.

“Sou Maria Uliane Alves da Silva, tenho 27 anos. Foi uma satisfação enorme participar da oficina, a qual trouxe muito conhecimento e me fez ver com outros olhos as experiências de cada uma e fiquei com vontade de levar para que mais pessoas conheçam essa tecnologia. ”

“Eu me chamo Andreia Daniele tenho 39 anos, venho aqui agradecer primeiramente a Deus e segundo a Valdirene e ao Centro Sabiá por ter nos prestigiado com o curso de Ação Fotográfica, facilitado pelo fotógrafo Eric Gomes. Esse curso foi muito importante para mim, ficamos sabendo qual é o melhor ângulo de fazer fotos e até mesmo como devemos fazer postagem nas redes sociais. Recomendo que todos façam, pois vale a pena. Estou muito grata por tudo que aprendi e ainda pelo fato de ter sido em minha comunidade. Muito grata a todos/as!”

Que bom ter você por aqui…

Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.

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