Diversidade religiosa – intolerâncias e resistências que as juventudes vivenciam na sua pele
Foto: Hugo Venâncio
Por: Hugo Venâncio, jovem multiplicador da agroecologia da comunidade quilombola de Demanda, Zona da Mata de PE.
Para começar eu peço licença a todos e todas os/as que vieram primeiro e saúdo com um laroyê, a força mágica do axé! Meu nome é Hugo Venâncio, tenho 17 anos, moro na comunidade Quilombola povoado Demanda, atualmente sou coordenador do grupo de jovens Ewá*, participo da associação comunitária e faço parte da Comissão de Jovens Multiplicadores/as da Agroecologia, onde tudo começou para mim.
Ao escolher falar sobre este tema já senti uma profunda sensação de desabafo. Me deparei refletindo sobre como poderia qualificar certas ações, críticas e afetos sobre o que posso levar para minha vida como fé. No período onde concretizei em minha mente que poderia seguir um destino onde sentisse a força divina do universo e da grande mãe, comecei a passar por várias frustrações tanto na sociedade quanto na minha própria família. Isso gerou caos, pois eu não iria conseguir voltar para “caixinha” onde escondia minha verdadeira essência! Foi muito doloroso e ainda está sendo “enfrentar” tudo e todos que são contra, em defesa da minha escolha, que é o que me alimenta e me fortalece para viver firme e forte a cada dia.
A CJMA foi uma das portas que se abriu na minha vida pois foi lá onde conheci pessoas que passavam as mesmas situações que eu de indiferenças e discriminações, por exemplo. E este espaço sempre garantiu momentos onde nos reunimos para uma ajuda mútua, cada um do seu lugar, mas a gente começa a entender que não está sozinho no mundo e que um problema que eu vivo hoje, tem muita gente vivendo também.
Em 2017 na minha primeira visita as atividades do Centro Sabiá me senti encantado, fui entrando no embalo, já queria ta de dentro da turma, nos rolês que tinha com a galera e fui me sentindo livre… eu deixei meu ser falar o que estava acontecendo com meu corpo, mudanças que eu não estava entendendo e o porquê de tanto sofrimento. Então eu sou grato a este coletivo por ter me ajudado a renascer na minha verdadeira origem.
É muito desafiador ser um jovem preto, remanescente de uma comunidade Quilombola, e com uma escolha religiosa diferente do “padrão social” porque existe um preconceito e exclusão muito forte por onde andamos. Mas quero reforçar que, somos seres humanos e que tudo isso não irá nos parar. O sangue dos nossos ancestrais não foi derrubado em vão, as noites em claro de nosso povo estudando pra ser como “branco” e ter o mesmo espaço não foi em vão, não vão nos calar, por isso somos todos Marielle Franco. A nossa luta é uma só, muita magia no coração da CJMA e de das juventudes, gratidão e bastante axé. Marielle Franco… presente, presente, presente!
*Ewá – é uma orixá, que significa tudo que ainda é intocado, tudo que é puro, e nesse contexto somos jovens puros onde estamos atravessando olhares e buscando conquistas na pureza de Ewá.
Que bom ter você por aqui…
Nós, do Centro Sabiá, desde 1993 promovemos a agricultura familiar nos princípios da agroecologia. Nossa missão é "plantar mais vida para um mundo melhor, desenvolvendo a agricultura familiar agroecológica e a cidadania". Seu apoio através de uma doação permite a continuidade do programa Comida de Verdade Transforma e outras ações solidárias e inovadoras junto ao trabalho com crianças, jovens, mulheres e homens na agricultura familiar.