Para aonde vai o seu lixo?
No Sertão de Pernambuco o problema do descarte do lixo no meio rural é preocupante. Foto: Laudenice Oliveira/CentroSabiá
Por Laudenice Oliveira (Centro Sabiá)
É comum no meio rural o poder público não fazer a coleta do lixo. De acordo com o Censo 2010, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 26% dos domicílios rurais brasileiros têm seu lixo coletado. A maior parte dele não tem como destino final os aterros sanitários ou as usinas de reciclagem. A desculpa dos gestores públicos é que a logística para realizar esse trabalho é difícil e o alto custo do serviço inviabiliza a instalação de coletas nas comunidades de forma permanente. Fica então para os/as moradores/as das áreas rurais a tarefa de encontrar uma forma de se livrar do lixo de cada dia. Essa realidade foi constatada no Sertão de Pernambuco pelo professor e pesquisador Dario Rocha, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST).
Dario é do Núcleo de Estudos Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido (NEPPAS) e trabalha com resíduos, educação ambiental e Agroecologia. No assentamento Carnaúba do Ajudante, em Serra Talhada, junto com seus alunos, ele fez um diagnóstico com a comunidade usando metodologias participativas para compreender o sentimento e o olhar das famílias para a questão do lixo. “Um ponto muito importante que surgiu, na conversa com os assentados, é a invisibilidade do resíduo (lixo) no meio rural, tanto para as instituições governamentais como para as não governamentais”, relata o professor. Ele observa que mesmo os assentados e as assentadas também não percebem a existência desse lixo. “O lixo faz parte, ele tá ali. Todo mundo gera esse resíduo que ora pode ser utilizado, ora não tem como ser utilizado. Ele precisa ter um destino correto, ir para locais adequados”, reforça.
O professor com seus alunos recolheram materiais diversos descartados dentro das propriedades rurais. De garrafas de plásticos até armaduras de cadeiras de ferro e pedaços de fogão foram recolhidos dos sítios visitados. Fotos mostrando diversos outros resíduos espalhados entre árvores e plantações também foram feitas pela equipe de pesquisa. Uma instalação com parte dos entulhos coletado nas comunidades foi feita durante o 5º Seminário do NEPPAS que aconteceu na UAST, no mês de abril. A exposição fotográfica também foi instalada para chamar a atenção dos/as participantes. A ideia foi sensibilizar para essa problemática que precisa ser discutida, além de se buscar solução para a situação.
Prática proibida – ainda é comum no meio rural fazer a queima do lixo como forma de se livrar dele. Apesar de ser proibida por lei, o Censo do IBGE constata um aumento nessa prática. No Censo de 2000 48,2% dos domicílios queimavam seu lixo, no de 2010 essa opção de cuidar desse resíduo passou para 58,1%. De acordo com pesquisadores/as a inadequada remoção e coleta desses resíduos sólidos domésticos e sua destinação ou tratamento final podem causar grandes impactos ambientais. “Acho que há uma irresponsabilidade de modo geral do poder público. Ele é omisso, assim como a legislação também é omissa em relação a questão do lixo no meio rural. Então se foca muito, lógico que a gente entende a dimensão e o volume do lixo urbano, mas o lixo rural existe. Ele tá indo para os corpos d’água, para debaixo da terra, tá fazendo com que plantas não germinem, tá levando diarreia e outras doenças para o meio rural, mortes de animais e o poder público ainda não acordou e não tá sensível a essa realidade”, Critica Dario Rocha.
Professor Dario Rocha montando instalação. Foto: Eka Macedo/Caatinga
Coleta seletiva – Para o bem dos seres humanos e do meio ambiente a melhor forma de tratamento do lixo, seja ele urbano ou rural, é fazer a coleta seletiva, separar vidro, papel, metal, plástico e lixo orgânico. Os restos orgânicos (casca de frutas e verduras, folhas, etc) podem ser transformados em compostagem, que no meio rural é de muita utilidade, pois pode ser aproveitado como adubo orgânico para melhorar a terra e a produção de alimentos. Outro aproveitamento do lixo orgânico, também já experimentado por famílias agricultoras é o biofertilizante. Para quem cria animais, os seus dejetos podem ser transformados em energia com a tecnologia do biodigestor. Já as sucatas e outros artigos descartáveis podem ser transformados em artesanato, biojóias e gerar renda para as famílias.
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