Centro Sabiá promove intercâmbio global ao Agreste pernambucano com entidades do Fundo de Adaptação Climática da África, Ásia e América Latina
Por Rosa Sampaio
Jornalista do Centro Sabiá
Mais de 90 pessoas, sendo 72 representantes de entidades de países da África, Ásia e América Latina e Caribe, participaram de visita – intercâmbio de experiências voltadas a convivência com o Semiárido e que contribuem para a adaptação ante a crise climática, nos municípios de Vertentes e Vertente do Lério, no Agreste Pernambucano.
A ação aconteceu na última sexta-feira, 9 de maio e foi realizada pelo Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, em parceria com o FUNDO DE ADAPTAÇÃO – fundo internacional que financia projetos e programas para ajudar países em desenvolvimento –, especialmente aqueles que são mais vulneráveis a se adaptarem aos efeitos das mudanças climáticas.
Para a coordenadora Geral do Centro Sabiá, Maria Cristina Aureliano, o Semiárido nordestino é um dos mais habitados do planeta e sofre de forma cada vez mais intensa com os períodos de estiagem agravados pelas mudanças climáticas. “As comunidades locais têm construído soluções efetivas de adaptação/convivência com o clima semiárido a partir das tecnologias sociais de captação de água da chuva, reuso de águas cinzas para agricultura e sistemas de produção sustentáveis e mais resilientes às secas. Essas iniciativas precisam ganhar escala e para isso precisam estar incluídas nos financiamentos para adaptação e mitigação às mudanças climáticas”, destaca.
Durante toda a manhã a comitiva conheceu tecnologias sociais, como as cisternas de placas (16 e 52 mil litros), o Reuso de Água Cinza no Sistema Agroflorestal (RAC/SAF), os bancos de sementes crioulas, biodigestor, o Fundo Rotativo Solidário, as ações de acesso a mercados (feiras e programas de acesso a alimentos) e os sistemas agroflorestais resultantes da Escola de Agrofloresta, realizada pelo Centro Sabiá.
Os visitantes conheceram três áreas rurais de famílias agricultoras, com experiências e tecnologias que contribui para a convivência com as adversidades do clima semiárido. Em Vertentes, no sítio Caruá, Dona Cilene e José Severino de Lima, conhecido como Seu Zé Bocão, apresentaram suas tecnologias de captação e armazenamento de água, às cisternas de 16 e 32 mil litros, o sistema de reúso de águas cinzas e como a partir dessas tecnologias simples começaram a produzir e a criar mais animais, e principalmente a guarda as sementes crioulas.
Outro grupo visitou a experiência de Larissa Silva, jovem agricultora, que junto com sua família implementaram o sistema agroflorestal no Sítio Vermelho, em Vertente do Lério, transformando assim sua terra, produzindo mais, especialmente com a conquista das cisternas e do sistema de reúso de águas, e impulsionando a criação de animais com o acesso so fundo rotativo. Larissa levou para sua família e sítio um novo jeito de fazer agricultura, valorizando o bioma Caatinga e se adaptando ao clima seco da região.
Ainda em Vertente do Lério, um grupo maior seguiu para o Sítio Chã do Pavão, na área do jovem agricultor e professor Rafael Bezerra. Rafael conquistou a primeira cisterna a partir do Fundo Rotativo e depois construiu mais cinco, duas de primeira de 16 e três de 32 mil litros, também implementou o sistema de reuso de águas para regar a agrofloresta, com produção de várias culturas, mas em especial das forrageiras para os animais. O jovem e a família criam animais, e com a reforma da pocilga construíram o biodigestor a partir dos dejetos dos suínos, garantindo assim gás de cozinha para a casa e a comunidade.
“Quero destacar as cisternas que o Sabiá e outras organizações disseminam pelo Nordeste inteiro, trazendo dignidade para as pessoas do Semiárido, porque mais simples que essa tecnologia seja, ela é extremamente essencial. É só observar a diferença da água dos barreiros, temos aqui, escavado de forma braçal para acumular água para os animais e para as pessoas, não era água potável, mas era o que tínhamos, e a água de cisterna, potável e limpa”, explicou Rafael Bezerra.
Farayi Madziwa, representante do Fundo de Adaptação, ressaltou a importância de conhecer histórias de resiliência como essa, pois ajudam entidades de outras regiões a construir propostas de desenvolvimento a nível local e nacional, ajudando comunidades vulneráveis e marginalizadas a lutar contra as mudanças climáticas e criar estratégias de adaptação. “Isso significou a magnitude e a ampliação da adaptação climática, que começa no nível local e pode se traduzir em programas muito maiores e mais amplos que beneficiam comunidades e países inteiros, assim como o globo também”, disse Farayi.
No período da tarde, os convidados participaram de seminário para trocas de conhecimentos sobre adaptação climática em zonas secas, no Reserve Hotel em Surubim-PE. Além dos visitantes estiveram presentes parte da equipe do Sabiá e agricultores e agricultoras que receberam as visitas.
O intercâmbio possibilitou que essas delegações tivessem contato com tecnologias sociais de convivência com o Semiárido e Adaptação Climática, observassem seus impactos junto às famílias e comunidades e sua capacidade de replicação em terras secas de outros países. O FUNDO DE ADAPTAÇÃO foi criado em 2001 no âmbito do Protocolo de Quioto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
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